Mais uma contribuição da Tatiana Trilho, jovem estudante que, apesar de não ter podido participar oficialmente no concurso de comunicação, continua a querer dar a sua contribuição para a Campanha Food We Want.
Por que persiste o problema da fome? Como será a alimentação no futuro? Em que medida poderá a agricultura ser a solução para o problema da fome? Será realista pensar que tal problema poderá ser, alguma vez, solucionado? Enquanto este assunto é debatido crianças morrem à fome uma, em média, por cada 6 segundos.
O mundo está dividido entre países importadores e países exportadores de alimentos. Entre os importadores está a grande maioria das nações cuja população sofre de fome crónica, nomeadamente na Ásia e na África Subsariana. Os países exportadores são aqueles cujo desenvolvimento e influência lhes permite “manipular” o mercado, vendendo produtos alimentares oriundos das regiões mais pobres a preços com que os países em desenvolvimento não conseguem competir, como por exemplo, os países da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE), merecendo assim sendo chamados de «players» por Darana Souza, investigadora do Centro Internacional de Políticas para o Crescimento Inclusivo (IPC-IG).
A fome persiste não somente porque existe quem ganhe com ela de alguma forma, mas porque não se mobilizam recursos financeiros e humanos suficientes, tanto na esfera internacional como na nacional. Fome e pobreza estão estruturalmente relacionadas, já que o problema reside no acesso aos alimentos e não na falta deles pois « O alimento desperdiçado durante um ano somente no Reino Unido e Estados Unidos poderia acabar com a fome no mundo » segundo Tristram Stuart, autor de Lixo: descobrindo o escândalo global de alimentos, que ainda afirma que «há supermercados que não admitem maçãs que não tenham uma determinada cor ou combinação de cores entre o vermelho e o verde».
A agricultura é apontada por muitos como uma solução para a problemática da fome mundial, isto porque apela à subsistência individual, não em termos pessoais mas em termos nacionais, podendo terminar com a dependência, a nível de géneros alimentícios, de países em desenvolvimento para com os desenvolvidos. Fortalecer o setor agrícola poderia facilitar o acesso à alimentação e reduzir significativamente a pobreza nos países onde tais problemas são mais evidentes. Para tal ser possível, os países em desenvolvimento contam com a ajuda financeira dos países mais ricos, que tem vindo a cair nas últimas décadas e encontra-se, alegadamente, hoje afetada também pela crise económica. Segundo dados de um relatório divulgado pela ONU em Setembro de 2009 «a produção agrícola deve aumentar 70% até 2050» para alimentar a população mundial que nesse ano se estima em 9,1 mil milhões de pessoas «o que equivale a um investimento de 30 mil milhões de euros por ano», estes dados atualmente são vistos como metas a atingir.
No cenário da União Europeia (UE) a grande solução reside, também, no incentivo à agricultura patente da Política Agrícola Comum (PAC) que, atualmente, se encontra em negociações uma vez que a atual PAC caduca este ano e tem de ser elaborada uma nova que indique as medidas a serem aplicadas em 2014-2020. Segundo Dacian Ciolos, comissário europeu para a Agricultura e o Desenvolvimento Rural «Precisamos de modernização, não só para sermos mais competitivos, mas para integrar melhor as expetativas relativas às mudanças climáticas» em Fevereiro de 2012 mostrava-se preocupado com a situação mundial «Se pretendemos abastecer o planeta, não será apenas através dos terrenos europeus. As decisões tomadas na Europa não podem afetar negativamente os outros».
O orçamento destinado à PAC consiste em 40% do orçamento da UE e, aos olhos de tal política, a agricultura deve ser encarada como uma forma de garantir aos cidadãos europeus uma alimentação saudável e de qualidade que, ao mesmo tempo, preserve o ambiente e desenvolva as zonas rurais. A nova PAC pretende também atrair investimento jovem, criar circuitos curtos entre produtores e consumidores e incentivar a criação de seguros e fundos mutualistas.
Teoricamente, estas medidas deverão solucionar o problema da fome dentro da UE e a nível mundial. Mas será uma solução tão óbvia como a agricultura resposta para um problema de tão grandes dimensões? Serão estas medidas realistas ou apenas idealistas? No contexto mundial a fome atinge proporções gigantescas que, como tal, necessita de uma solução de igual tamanho que se acredita residir na melhor distribuição dos alimentos e na aposta na agricultura.