A Tatiana Trilho tem apenas 17 anos e por isso não pode participar no concurso Food we Want. No entanto não quis deixar de enviar um texto de muito boa qualidade sobre temas centrais à campanha Food we Want.
A principal tarefa do ser humano é adquirir alimento necessário à sua sobrevivência. Quantas pessoas não foram capazes de realizar esta tarefa autonomamente hoje? E ontem? E amanhã? A resposta é surpreendente: 870 milhões, de acordo com o relatório da Organização das Nações Unidas para a Agricultura e a Alimentação (FAO) referente aos anos 2010-2012.
A crise alimentar assola o mundo, afetando os países em desenvolvimento e os desenvolvidos, de Norte a Sul a fome prolifera tal como outros problemas sociais que são acompanhados por um aumento da população a nível mundial.
O agravamento da crise económica surge como causa e consequência da crise alimentar. Os mesmos que conduziram à crise das hipotecas e do desemprego, em Setembro de 2008, são os que agora especulam com as matérias primas alimentares, o que gera um aumento dos seus preços tornando-os inacessíveis para amplas camadas da população. O lucro económico de poucos é sobreposto às necessidades alimentares da população através do monopólio do atual sistema agro-alimentar, por parte de multinacionais, que agem conforme os interesses do capital. Peter Sorrentino, um administrador norte-americano da hedge funds compara a crise alimentar com «uma grande torneira de dinheiro que foi aberta», uma vez que, para os bolsistas, a especulação sobre o preço de produtos como o trigo, o arroz e o milho acaba por ser bastante lucrativa.
A atual crise nos preços dos produtos alimentares é fruto de uma redução da oferta, aumento da procura e encarecimento da produção. Tal conjuntura é motivada, principalmente, por dificuldades nos principais países exportadores de cereais: «Estamos em perigo, já que apenas um punhado de países são grandes produtores de alimentos básicos», destacou o comunicado conjunto assinado pela FAO, Fundo Internacional para o Desenvolvimento Agrícola e Programa Alimentar Mundial, que refere ainda que «O mundo está mais bem preparado para uma crise alimentar do que estava em 2007».
O relatório da FAO de Março 2013 revela que os preços dos produtos agrícolas estão de tal formas elevados que se tornaram insuportáveis para os países dependentes de importações a nível alimentar, tal como prova o aumento do preço do trigo em 70% e do milho em 40% nos últimos meses, produtos que constituem a base da dieta da maioria dos países. O mesmo relatório concluiu que existem alimentos suficientes para abastecer toda a população do planeta, tal só não acontece devido à sua má distribuição que tem originado uma crise prolongada com um elevado índice de fome.
Atualmente a crise alimentar tem duas formas de expressão: a questão imediata do aumento dos preços e, consequente aumento da fome e, a longo prazo, o de como produzir, comercializar e consumir alimentos tendo em consideração as mudanças climáticas e o poder de compra da população. Esses problemas afetarão principalmente os países com menores rendimentos e mais dependentes da produção externa. Tais problemas vêem na Política Agrícola Comum possíveis soluções que visem o apoio aos investimentos e agricultores locais, bem como a organização dos recursos disponíveis de forma a solucionar a atual crise alimentar global.
"No mundo governa um czar impiedoso: fome é o seu nome." Nikolay Nekrasov