Por vezes, as soluções para grandes problemas estão debaixo do nosso nariz. Geralmente é preciso uma pequena alteração da forma como vemos as coisas.

A Organização das Nações Unidas (ONU) vem agora propor-nos uma dessas soluções para, não um, mas dois desses grandes problemas: a desnutrição e a poluição. Esta solução não será facilmente digerida por todos e requer algum estomago, aliás bastante estomago. A ONU sugere o aumento do consumo de insetos por parte da população como uma das novas armas para reduzir a fome, a desnutrição e a poluição.

Certamente haverá quem considere que é um disparate, no entanto a ONU, através da FAO, tem vindo a trabalhar a questão seriamente e com afinco, pelo menos desde 2003. Em 2010 a organização colocou online um site expressamente dedicado à questão (FAO Edible Insects Program) e já este ano, a FAO, lançou o relatório “Edible insects: future prospects for food and feed security” (Insetos comestíveis: perspetivas futuras para a alimentação e segurança alimentar), um documento de 200 páginas, com quase toda a informação pertinente sobre insetos comestíveis (só faltam as receitas).

A FAO tem feito questão de relembrar que cerca de dois mil milhões de seres humanos já complementam as suas dietas com insetos e apresenta três boas razões para promover a entomofagia:

- Saúde e Nutrição – os insetos, sendo ricos em proteínas, gorduras saudáveis, cálcio, ferro e zinco, são uma alternativa altamente nutritiva e saudável às fontes de proteínas tradicionais (como a carne e o peixe).

- Ambiente - Os insetos são extremamente eficientes na conversão de alimento em proteína comestível (12 vezes mais eficiente que o gado bovino e 2 vezes mais eficiente que o suíno e ovino). Além disso, a produção de insetos requer uma alocação menor de terras (quer por via direta, quer através do cultivo de materiais para a produção de rações) e tem menores emissões de gases com efeito de estufa.

- Governança (fatores económicos e sociais) – A criação/cultivo/captura de insetos para alimentação pode ser uma atividade de baixa tecnologia e baixo investimento inicial, constituindo assim uma oportunidade nutricional e económica para populações rurais e urbanas de baixos recursos.

Mais uma vez esta não será uma bala mágica para resolver todos os problemas relacionados com a fome e o ambiente. Mas sempre é mais uma alternativa, sobretudo para aqueles que reclamaram quando a ONU aconselhou que as populações dos países ricos reduzissem o seu consumo de carne…