Leia aqui o texto vencedor da componente portuguesa do concurso Food we Want.
Vandana Shiva foi pioneira na luta por um modelo de desenvolvimento ecológico e centrado no papel das mulheres. Hoje a ativista indiana continua a advogar os direitos dos pequenos agricultores e a sua soberania sobre sementes agrícolas, um tema tornado mediático recentemente com o caso Bowman vs. Monsanto nos EUA.
Nos anos 70 e 80, Vandana Shiva fez parte do movimento Chipko, no qual mulheres indianas protestaram contra exploração florestal industrial ao abraçar as árvores que lhes serviam de fonte de sustento frente às máquinas do projeto industrial, dando origem à expressão “treehugger” (abraçador de árvores) utilizada para designar ambientalistas. Desde então, a ativista formada em Física e Filosofia, criou “o movimento centrado nas mulheres de proteção de diversidade biológica e cultural” Navdanya, publicou dezenas de artigos e livros e ganhou o Right Livelihood Award (conhecido como o prémio Nobel alternativo) em 1993 por “colocar as mulheres e a ecologia no centro do discurso sobre o desenvolvimento moderno”, entre muitos outros reconhecimentos.
Hoje, um quarto de século mais tarde, Shiva continua o seu trabalho contra a pobreza e destruição ambiental promovendo a biodiversidade, os direitos dos pequenos agricultores e, principalmente, agricultoras. No Dia Internacional da Mulher, Shiva esteve em Los Angeles numa conferência para falar de como a globalização, “moldada por uma mentalidade muito patriarcal, (…) na verdade agravou a violência contra as mulheres, que vivem numa ordem económica muito violenta na qual a guerra se tornou essencial, a guerra contra a Terra, a guerra contra os corpos das mulheres, a guerra contra economias locais e da guerra contra a democracia”, explica em entrevista ao programa noticioso Democracy Now (DN).
Nos Estados Unidos, o tema da soberania sobre as sementes tem colhido algum mediatismo devido a um processo judicial que envolve a maior empresa mundial de sementes, Monsanto, que tem colhido fortes críticas de Shiva pela sua atuação na Índia. Vernon Bowman, um agricultor de 75 anos do Indiana, foi processado pela empresa que o acusa de violar as suas patentes sobre sementes de soja resistentes a herbicidas.
Para Shiva, esta não é um questão de um agricultor e uma empresa, mas algo que afeta toda a população mundial: “Temos de dizer à Monsanto e aos governos do mundo, que eles receberam as sementes da Natureza, dos nossos antepassados, de comunidades em todo o mundo. Nós temos o dever de protegê-las. Uma lei que diz que guardar sementes, produzir sementes e que a nossa liberdade sobre as sementes é um crime é uma lei que deve ser considerada ilegal. Temos que agir com base numa lei maior, a lei da terra, a lei de justiça social e, mais importante, a lei do conhecimento das mulheres e das habilidades das mulheres em guardar sementes”, explicou à DN.
Uma das pioneiras na luta contra a fome numa perspetiva centrada nas mulheres como as principais vítimas de um modelo que falhou em assegurar alimentação adequada para uma parte significativa da população mundial, a mensagem de Vandana Shiva tem é cada vez mais é aceite pelos defensores da alimentação como Direito Humano.